terça-feira, 2 de março de 2010

Cor-de-liz

O soco na pele lembra o invisível da alma. Leve e corante. O pensar e o torcer seguem caminhos distintos. O abismo que avisto é ilusório. Penugem. Corpo escasso. Peste que gruda.
A vida é engraçada, mas ainda assim machuca. Perda por todos os lados. Achados em todos os sentidos. Contentamento e displicência. Vazio e perturbação. Abandono.
O que salva nesse mar de lembranças cortadas é o profundo sentido da vida. Correto, ainda que distante. Pesado, ainda que corrente. Lesado, ainda que latente. Compacto.
Desejo estar em mim em todos os momentos, assim como protejo os favos de covardia que ainda restam . Quero-me inteira. Quero-me acesa. Quero-me cor-de-liz.

7 comentários:

Anônimo disse...

Uma das coisas que me chamou antenção - de cara - foi a tua forma de escrever, passando altiva por cima das vírgulas (Ou quem sabe as escondendo?).

Isso, de forma alguma é um crítica "gramatical". Mas, antes, uma constatação interessante da tua forma de escrever, quem sabe do "momento".

Frases muito curtas, curtíssimas, que evocam sentidos para o que não há. Ou visceralmente sentidos?

O ponto fnal é um ato de coragem.

"Coragem na porta. Medo na esquina."

?


Às vezes, é tão difícil usar uma vírgula. Principalmente se sentimos o peso do vocativo independente, que não faz mais parte do sujeito ou do predicado.

Talvez sejam pistas desnecessárias, ou faltem palavras para "derrubar a vontade da boca..."

Ao mesmo tempo, há a presença constante do Tempo. "Essa batida inaudível, que não se percebe única e valiosa a cada momento, que não se escuta no mundo o badalar dos tantos relógios cuja a têmpera da inflexibilidade é igual há mil anos atrás."

Essas frases curtíssimas, ornadas com dezenas de pontinhos pretos, que parecem terem sido martelados, rebitados, tal a significância que, parece, denotar auto-afirmação do sentido.


Será que, pra fora dos rebites martelados:

"...o resto é tudo o que vem e não fica."?



p.s.: desculpe pelas divagações, mas eu estava precisando :)

Juliana Ben disse...

Anônimo,
A questão das vírgulas sempre foi muito presente pra mim, desde a infância, quando eu as apagava levemente para que a professora tivesse dúvidas se de fato havia uma ali ou não, pois eu, sempre tinha dúvida. De lá pra cá, aprendi um pouco mais de português e me considerei apta o suficiente para escrever. Nunca tinha me ocorrido que, nesta minha forma de escrever, pode estar contida uma dificuldade que sempre me acompanhou, mas que nunca me impediu de fazer o que eu gosto: escrever. Mas acredito que esses devaneios literários formados por frases crutas carreguem muito mais do que isso, como bem disseste no tua crítica, da qual gostei muito.
Uma dúvida: de quem é a frase que citas quando se refere ao tempo?
Abraço.

Eduardo Marques disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Anônimo disse...

Gosto de espreitar, olhar pelas frestas, o que há por debaixo das pedras dos "anônimos" pelo mundo à fora.

E, que interessante essa tua colocação sobre como lidavas com as vírgulas.

Na verdade, a literatura, como toda forma de arte é, também, uma expressão da nossa subjetividade, do nosso inconsciente.

O problema é que é difícil definir até que ponto o escritor é um "mentiroso" que diz a verdade, ou alguém que diz a "verdade" mentindo :)

A citação é de uma amiga minha. "... fria polar e calculista do mar", como ela mesma diz.

Ela, não tem escrito porque está soterrada pela vida normática e suas necessidades de Ser-ferramenta.

Mas, nesse blog coletivo tem uma crônica dela, é a úiltima, lá embaixo, chama: "Vertigens da Razão", acho bem legal...

http://www.poderegloria.blogspot.com/

Boa semana,

abraço :)

Juliana Ben disse...

Então o anônimo é tu Eduardo? Que massa!
Em relação a questões de verdade x mentira, não vejo muita pertinência em debatê-las, pois a literatura, e a ficção de uma maneira geral, não segue regras, não tem uma lógica própria e não deve, na minha opinião, ser analisada por esses parâmetros. A arte é um universo à parte e é assim que ela contribui para tornar a vida mais bela e suportável.

Eduardo Marques disse...

Eu, sou um loser, nem me manter anônimo consigo :P

Na verdade, eu concordo contigo sobre esse lance de "mentira x verdade", por isso coloquei entre aspas :)

É a distinção entre o Eu lírico e o autor, na verdade.

Mas, ao mesmo tempo, a própria subjetividade do autor é intriseca, o que sempre remete a devaneios sobre uma suposta realidade objetiva flutuando sobre os escritos.

Há sempre uma pulguinha, um dúvida sobre o lirisimo destilado.

A dúvida é a ausência do óbvio, o que ja me agrada...

Como dizia o Pessoa, "o poeta é um fingidor..."

"Que chega a fingir que é dor. A dor que deveras sente".

Estava lendo esse texto o Caio F. Abreu, e me lembrei desse lance de ponto e vírgulas :)

http://caio-fernando-abreu.blogspot.com/2007/06/para-uma-avenca-partindo-caio-f.html

Juliana Ben disse...

Adoro o Caio F Abreu, é uma das minha maiores inspirações, e esse conto que citaste é um dos meus preferidos.
Vejo que a tua análise é bastante aprofundada, no sentido de saber o que está por detrás daquele que escreve. Coisas de escritores - ou aspirantes a. Também leio procurando um pouco isso, me interessando por aquele que sente e cria e despeja tudo isso no papel.