quinta-feira, 29 de março de 2012

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Acordo em meio a ervas e fumaças
Minhas escassas letras já não ressoam do teu lado
Contento larvas em punhados
Reviso cartas
Aqueço tintas
Repouso em osso

Não lembro dos tempos de lá
Pontos de pedra e de lã
Achados de purpurina seca
Inéditos afins

Pensava passar mais tempo em ti
Contadas semanas seriam se teu pé me fosse mais sóbrio
Se tua boca me fizesse mais sentido
Se meus calos te possuíssem mais

Mas não espero de ti o que não posso me dar
Sei dos fios que teci
Das esperas profícuas
Dos roncos e destronados jeitos

Vi-me borboleta perdida
Roxeada em poças de carvalho
Crua por fora
Amarela porfim. 

quarta-feira, 21 de março de 2012

A Poeta Pérola

olho muito tempo o corpo de um poema
até perder de vista o que não seja corpo
e sentir separado dentre os dentes
um filete de sangue
nas gengivas

Ana Cristina Cesar

terça-feira, 20 de março de 2012

Dois em um 2

Eram dois pontos 
À procura de uma linha.

Dois pontos 
Desgarrados e famintos.

Dois pontos 
Que
De repente
Se queriam um.

Um ponto 
Para preencher o peito e a cabeça
Um ponto 
Para amar mais a vida
Um ponto 
Unindo dois 
Pombos.


(poema selecionado para o projeto "Um poema em cada árvore" - http://www.institutopsia.org/

sexta-feira, 9 de março de 2012