sexta-feira, 28 de maio de 2010

Não quero ter a terrível limitação
de quem vive apenas
do que é passível de fazer sentido.
Eu não: quero uma verdade inventada.


Clarice Lispector

sexta-feira, 21 de maio de 2010

Uma bolha em nós

No alto do teu projetar o corpo em minha direção, surgem calafrios atrelados a imensas bolhas do bem. Bolhas que nos conservam em identidades bem definidas. Bolhas suadas e vencidas. Bolhas de vento. Bolhas de cento. Bolhas.
O nosso passo, suave e corrente, remove os segredos incontáveis de um tempo em que vivíamos em outras bolhas. As dores são agora amaciadas em superfícies cuidadosamente escolhidas. Inexplicavelmente combinadas. Unidas em nós.
Na nossa bolha, o meu cantar segue o teu querer. O teu querer segue o nosso contar tudo o que somos e o que ainda queremos ser. O nosso querer ser serve o nosso ser-estar-no-mundo. E na consciência de ser-estar-no-mundo, nos encontramos e formamos a nossa bolha. Uma maciça e dourada bolha do bem.

segunda-feira, 3 de maio de 2010

Aspirantes do porvir

O corte lançado a poucos metros de altura remonta o presente. E povoa a frágil estrutura de um ser que se coloca no mundo. Que se coloca numa busca sem fim. Que se constrói por meio de verdades e falências. Que luta contra si mais do que contra todos. Que verte o que tem. O que pede. O que sente. O que poda.
Os percalços vêm em ondas invisíveis. Abstratas e internas, elas percorrem corredores sustenidos. Como penumbra viva em quarto fechado. Como salas de espera eternamente sem esperança. Como o vazio que externamos em suaves e correntes prestações. Como o pulsar negro do buraco que todos contêm.
No fundo, pontadas e ponteiros. Na superfície, impetuosas secreções revisitadas. No meio, uma vontade de cores. Uma certeza de formas bem preenchidas. Uma coragem corada e fincada. Nós. Emaranhados e vivos. Balanceados por fortes correntezas noturnas. Refletidos em todos os planos. Cobertos por todas as plumas. Contentes. Aspirantes do porvir.