(...)Embora nas relações amorosas, assim como nas relações sociais de uma maneira geral, vejam-se refletidos os ideais de uma sociedade capitalista, consumista e globalizada, essas mesmas relações não operam a partir de ações e reações estanques, carregadas de alto teor de objetividade e clareza. Os indivíduos são seres altamente subjetivos e bastante inconstantes no que diz respeito ao uso da sua racionalidade. Da mesma forma que somos (também) racionais em terrenos altamente emocionais, como o dos relacionamentos amorosos, somos emocionais em áreas da nossa vida que nos exigem atitudes mais racionais, como no campo profissional, por exemplo. Torna-se muito difícil separar esses dois impulsos, e esse é um dos aspectos que torna a vida em sociedade tão complexa e confusa, ainda que passível de compreensão.
Ademais, os sujeitos não são apenas produtos de uma sociedade globalizada, são também produtores dela. Assim como nós reproduzimos muitos dos padrões cultuados pela cultura global, somos também responsáveis pela existência de uma lógica reprodutora. Os sujeitos têm poder de agência sobre o mundo e é nessa relação sujeito agindo sobre o mundo/sujeito sendo moldado por este mesmo mundo que se formam as identidades sociais e individuais.
Admitir o poder da subjetividade, e pensar que as pessoas agem no mundo na mesma medida em que o mundo age sobre elas, significa pensar que existe um certo equilíbrio de forças guiando a vida em sociedade. É claro que esse equilíbrio é relativo e penderá mais para um lado do que para outro, dependendo da situação em que se encontrar o sujeito.
(trecho da etnografia "Quando amar é um problema: os significados de amar demais a partir do MADA - Mulheres que Amam Demais Anônimas")
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