segunda-feira, 25 de agosto de 2008

Fogo na grade

Os dedos dele seguravam-na pelo sexo, formando uma concha pélvica que ia da bunda até o umbigo. O desejo dela escorria pelas pernas e encontrava o calcanhar dele, pelo roçar do salto na pele áspera. O contato do corpo com a grade a excitava, provocando a liberação de curtos, mas intensos gritinhos. Ele bufava e exprimia uma feição peculiar, como se algo o confortasse e o incomodasse ao mesmo tempo. O odor dos corpos poderia ser sentido por qualquer transeunte. O ar estava tão infestado, que o gosto deles poderia ser tragado pelo cigarro do executivo que caminhava na calçada. As sete horas se aproximavam e o movimento da rua ia aumentando, mas o casal parecia pouco se importar com isso, afinal, um pedaço branco de pescoço vale mais do que mil olhares reprovadores.

segunda-feira, 4 de agosto de 2008

Viagem ao centro do cérebro

Um caco de vidro rasgou o meu dedo, e o sangue que escorreu dele formou um tapete vermelho com bolas roxas disformes e cheias de vida. Elas me tiraram pra dançar e foram me conduzindo até o vazio do meu próprio pensamento. Chegando lá, sentei numa poltrona amarela entre o córtex e o mesencéfalo. As bolas roxas disseram para eu aguardar um instante, pois logo o Sr Cerebelo, responsável por manter a postura e o equilíbrio, viria falar comigo. Enquanto esperava, me distraía com os impulsos nervosos que insistiam em cortar a minha frente. Pensei em seguida que o Sr Cerebelo deveria ser um homem muito ocupado, pois a minha espera já durava uma hora, e o ambiente estava ficando cada vez mais fervente e sufocante. Esse clima atraiu um pensamento mal-intencionado, que se sentou na poltrona preta ao meu lado e começou a dizer impropérios. Mas curiosamente, pela primeira vez, eu não acreditei nele. Pela primeira vez enfrentei-o com a serenidade de quem está dentro e fora de si ao mesmo tempo. Consegui ver a inveja e a desarmonia nos seus olhos e naquele momento percebi o que eu estava fazendo ali. O Sr Cerebelo não viria, pois ele estava realmente muito ocupado me ensinando a lidar com os meus pensamentos.