sexta-feira, 7 de dezembro de 2012


Selvagem
Tudo que não pode ser
Nada pode ser
Pintado ou
Inspecionado
Tudo pode ser geral
É original
E mostra o espírito
O tumultuado
Espírito




Que a forma do meu corpo não me empeça de ser eu mesma
Que o passado mais fique
Que venha
Que as pressas fiquem presas
E os vestidos
Rodados

Que eu não precise pedir mais
Que eu não precise
Demais

Que a força do que vejo
Pouse calma e segura

Que os dedos cheguem
Que as ondas passem
Que o tempo
Urja

domingo, 25 de novembro de 2012

Domingos in vento

Domingo sem vento e sem sono
Pressa de partir, pensar e chover
Passos rasteiros até o banheiro
Novidade nenhuma

Ontem te vi de lado e corri
Sentaste palavras soltas no meu colo
E resposta, não escutaste

Na verdade tenho sono
Mas a cortina tem mais frestas do que eu
Cabelos
E o que passa por mim é tão íngreme e fixo
Que mal posso tocar
Então, levanto
E caio feito abacate maduro no rastro da porta de entrada

sábado, 21 de julho de 2012

15 mais 7, vinte-e-três

Domingo-de-sol-no-edredon-colorido

Flor-de-maça-na-janela-do vidro

Dedos-rápidos-e rasteiros

Secos-no-ouvido

6 mais 7, vinte-um

Sábado-com-cara-de-domingo
Férias-com-cara-de-trabalho
Frango-sem-pele-e-sem-gosto
Gosto-de-coro-inflamado
Pele-exposta-na-lama
Pede-posta-com-cama.


domingo, 15 de julho de 2012

Te encontro nas minhas linhas em branco

Me descobri poeta
Quando
Minhas linhas em branco
Foram
Pouco a pouco
Ocupando o lugar
Dos meus pontos finais.

domingo, 17 de junho de 2012

Domingo 17

Pantufa-de-ovelha-e-coração-vermelho.
Unha-folha-descascada-de-tédio-e-desejo.
Amassa-fio-ferro-solto.
No-pé
Ponteiro.

segunda-feira, 28 de maio de 2012

Vim virada numa porta de roda em sombra à mostra e oca

Acordei oca
Oca de pedra e de lenha
Oca de ti
Oca de ostra

Mostra
Onda-tormento-menor
Leva o que me sobra
E movimenta meus dedos
Para que possam tocar os teus

Sombra
Sobra de cor
De corda
De louça
Não lavaste e não foste
Nem ao menos soubeste do meu calo maior
Nem ao menos provaste as gotas do breu

Roda
De pontas acesas e sondáveis
De um vinho que ofusca a pele
E poda o vento

Porta
Presa por mim
Pressa por vir
Impressa em vis
Marcos marrons

Porca
De parafusos amassados em bocas de pia
Em busca de vida

Vira
Olha pra mim
Não vidra no que eu não disse
Não adivinha o que eu não peço

Vinha
Tinha
Lágrima de pinha.

sábado, 12 de maio de 2012

domingo, 6 de maio de 2012

Domingo 2

Cabelo-comprido-torcicolo-sorriso-ana-cristina-sushi-na-varanda-mate-leão-gelado-inter-goleado.

domingo, 29 de abril de 2012

Domingo 1

Domingo-cinza-amarelado-chimarrão-pura-folha-dor-na-lombar-teclado-dispendioso-manu-gorducha-no-meu-colo.

quinta-feira, 29 de março de 2012

...

Acordo em meio a ervas e fumaças
Minhas escassas letras já não ressoam do teu lado
Contento larvas em punhados
Reviso cartas
Aqueço tintas
Repouso em osso

Não lembro dos tempos de lá
Pontos de pedra e de lã
Achados de purpurina seca
Inéditos afins

Pensava passar mais tempo em ti
Contadas semanas seriam se teu pé me fosse mais sóbrio
Se tua boca me fizesse mais sentido
Se meus calos te possuíssem mais

Mas não espero de ti o que não posso me dar
Sei dos fios que teci
Das esperas profícuas
Dos roncos e destronados jeitos

Vi-me borboleta perdida
Roxeada em poças de carvalho
Crua por fora
Amarela porfim. 

quarta-feira, 21 de março de 2012

A Poeta Pérola

olho muito tempo o corpo de um poema
até perder de vista o que não seja corpo
e sentir separado dentre os dentes
um filete de sangue
nas gengivas

Ana Cristina Cesar

terça-feira, 20 de março de 2012

Dois em um 2

Eram dois pontos 
À procura de uma linha.

Dois pontos 
Desgarrados e famintos.

Dois pontos 
Que
De repente
Se queriam um.

Um ponto 
Para preencher o peito e a cabeça
Um ponto 
Para amar mais a vida
Um ponto 
Unindo dois 
Pombos.


(poema selecionado para o projeto "Um poema em cada árvore" - http://www.institutopsia.org/

sexta-feira, 9 de março de 2012

domingo, 26 de fevereiro de 2012

Nada acontece duas vezes

Nada acontece duas vezes
nem vai acontecer, por isso
sem experiência nascemos
sem rotina morreremos

Nessa escola do mundo
nem sendo maus alunos
repetiremos um ano,
um inverno, um verão.

Nunca é o mesmo dia,
não há duas noites parecidas,
igual olhos-nos-olhos,
dois beijos que se repitam.

Ontem enquanto teu nome
em voz alta pronunciavam
senti como se uma rosa
caísse pela janela.

Agora que estamos juntos
me volto em direção ao muro.
Rosa? Como é a rosa?
Como uma flor ou uma pedra?

Me diz por que, ó céus,
Com medo inútil te mesclas.
És e por isso passas
Passas, por isso és bela.

Meio abraçados, sorrindo,
Buscaremos o juízo
Ainda sendo tão diferentes
Como duas gotas de água pura.

Poema de Wislawa Symborska
Tradução livre do espanhol por Juliana Ben

sábado, 25 de fevereiro de 2012

Nada sucede dos veces

Nada sucede dos veces
ni va a suceder, por eso
sin experiencia nacemos,
sin rutina moriremos.

En esta escuela del mundo
ni siendo malos alumnos
repetiremos un año,
un invierno, un verano.

No es el mismo ningún día,
no hay dos noches parecidas,
igual mirada en los ojos,
dos besos que se repitan.

Ayer mientras que tu nombre
en voz alta pronunciaban
sentí como si una rosa
cayera por la ventana.

Ahora que estamos juntos,
vuelvo la cara hacia el muro.
¿Rosa? ¿Cómo es la rosa?
¿Como una flor o una piedra?

Dime por qué, mala hora,
con miedo inútil te mezclas.
Eres y por eso pasas.
Pasas, por eso eres bella.

Medio abrazados, sonrientes,
buscaremos la cordura,
aun siendo tan diferentes
cual dos gotas de agua pura.

De Wislawa  Szymborska, 1957
Versión de Gerardo Beltrán

segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

Hoje

Hoje eu quero falar de ti.
Cansei de falar de mim e da gente.
Cansei de colchas de retalho corrosivas.
Do meu leve permanente.

Hoje eu quero buzinas flamejantes.
Cortados anúncios de bolhas-casa.
Destroçadas ideias esvoaçantes.
Pousadas e rasantes no muro.

Hoje eu quero o grito das gaivotas.
A sombra do que eu não vejo.
O frango do prato ao lado.
As cores da tua pisada funda.

Hoje eu quero o não-dito
O abismado
O passado impefeito
A torre esquecida
A valsa podada
O peso que evitas.

Hoje eu quero a saída
Dividida em muitas janelas
Em pontes que nunca ando
Em pedras que nunca pego.

Hoje eu quero a tua mão vazia
O teu pensar invertido
Tuas tensões invadidas
Pinceladas em tecido.

Hoje eu quero o latente
O caminho que não foi traçado
O troço destroçado
Os moços da esquadra leste.

Hoje eu quero falar de ti.