Os copos se encontraram antes dos corpos. O plástico encervejado dele tocou o plástico gintonicado dela. Os pés, nessa altura, já alvoroçados, dançavam um em direção ao outro. Pedintes. Correntes. A cabeça dela pendia para os lados e para baixo, em leves e corados movimentos. Os olhos dele fixavam nela. Como se nunca tivessem encontrado alguém tão simples. Tão simplesmente ela. A largura dos dois era uma só. O contato dos dedos, que se tocavam quase que por acaso, também. A palavra entalada era o arremesso dos lábios que serviam um ao outro. Sem que o toque escancarado fosse necessário. Sem que o desejo se confundisse com o porvir. Sem que a verdade deles fosse indelicadamente compreendida. Ficaram ali. Por algum tempo. Um tempo difícil de ser cortado. Um tempo do qual se lembrariam por muito tempo. Depois daquela noite, ela seguiu sendo ela. Com seus escritos, segredos e pesares. Ele seguiu sendo ele. Nos seus desajeitados cortejos, contentos e vazios. Nunca mais se viram. E nunca mais sentiram o gosto daquela noite.
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