quinta-feira, 14 de julho de 2011

Castanhos, Verdes e Azuis


O café acabara de pousar sobre a mesa de mármore envelhecido. Mesas de mármore habitam cafés de estações de trem em Alina. Porque Alina é assim: propensa a rochas de origem vulcânica. Perdida em um emaranhado de fogos que esquentam, mas nunca queimam, nunca gritam, nunca se exaltam.
Alina é uma cidade contida. Muitas coisas continham Alina. Muitas coisas que me impediam de seguir ali.
Antes do primeiro gole de café, vi passar ao meu lado uma maleta vermelha. Ao subir os olhos, deparei-me com um rosto azul. Um azul que eu não entendi. Um azul que me chamou e me invadiu. Um azul que não era de amor, não era de desejo, não era de interesse. Não era de nada que se costuma ser um primeiro azul.
A maleta vermelha passou e o rosto sentou-se a alguns metros de mim. Uma moça de cabelos compridos e castanhos o esperava em outra mesa de mármore. O castanho da moça insipirava um vazio de ondas vindas do norte. O azul do rapaz era vento em pedra maciça. O som do fundo espraiava-se em contínuos roncos opacos.
O azul seguia fitando-me e a minha angustia seguia crescendo na medida em que crescia a minha compreensão do que ali se passava. O rosto azul era de socorro e me olhava como se tivesse encontrado uma cúmplice.
 Naquele momento, eu soube. Eles já haviam tentado de tudo. Longas conversas, breves separações, incansáveis tentativas de consertar o desconcertável.  Eu sabia disso. Eles estavam presos. Os seus amores – que um dia foram um – encontravam-se encerrados no peito. Incomunicáveis. Impedidos de retornar ao ponto de partida.
Eu, vulnerável e secreta,  facilmente absorvida por ares gélidos vindos de castanhos e azuis, tentei descolar-me, mas o rosto azul me havia encarcerado junto com ele, como se ali coubesse uma terceira alma dolorida. Como se o verde combinasse com o azul. Como se eu fizesse parte de uma história que eu desconhecia.
O entrelaçar vazio do verde com o azul não fazia sentido pra mim. Eu não queria aceitar um azul que se havia imposto de maneira tão desesperada. Eu sabia que o meu verde vinha da dor. Eu sabia que sensíveis rostos azuis captariam de que matéria eu era feita, mas eu não buscava um azul. Porque o meu verde combina com o granito amarelo, com o bálsamo violeta, com o vermelho pálido. Eu combino com o novo vestido de velho. Com bocas losangulares e maravilhosamente imperfeitas.
Então, em um gesto corajoso e pueril, impus meu verde, rompendo toda e qualquer conexão com o azul.  Minha conexão com Alina também ali foi deixada, ou talvez expressamente plantada, pois não sei se até este dia havia estabelecido algum vínculo com Alina. 
O trem sairia em alguns minutos. Coloridos externos em mesas de mármore ficariam. Azuis e castanhos em seus mundos morreriam. Meus verdes em pedaços assim me diziam.   





segunda-feira, 4 de julho de 2011

Libertad Femenina y Práctica Política

(...) Yo no deseo emanciparme de mi ser mujer. Mi libertad femenina ha venido del acoger mi propio ser mujer y no emanciparme de ello. Ha venido de la tomada de consciencia que la libertad femenina es practicar la diferencia y no ocultarla. Encontrar un sentido para mi ser mujer y no a pesar de mi ser mujer. Los hombres no hablan a pesar de su ser hombre, ¿por qué nosotras deberíamos hacerlo? ¿Por qué nosotras debemos encajarnos en el modelo masculino? ¿Por qué debemos seguir mirándonos en el espejo del hombre y ver una imagen deformada? ¿Por qué no podemos pensar, hablar, accionar, vivir como mujeres, con todas las paradojas y coincidencias que suponen nuestro ser mujer? (...)

(...) Mi libertad femenina es practicar la política del simbólico, es libertarme de la mirada neutra. Mi libertad femenina es poder ser todo: madre, hija, novia, escritora, antropóloga, profesora, amiga, esposa, mujer. Pero ser todo esto respectando mis ciclos y mis tiempos. Respectando mi deseo de dar y recibir amor, así como mi deseo de producir conocimiento e intercambiar ideas, pensamientos, experiencias. Mi libertad femenina es revolution and love[1].



[1] Referencia a la performance de la artista afrojamaicana D’bi.young Anitafrika en KOSMOPOLIS 11 – La Fiesta de la Literatura Amplificada, CCCB, Barcelona, 2011.


Fragmento del artigo homónimo, todavía inédito.

sábado, 2 de julho de 2011

Hoje eu descobri um poeta.

Eu nao preciso de verdades para viver. Eu preciso só de mentiras. Mentiras essenciais. Ilusões, muitas ilusões...
Waly Salomão