Os copos se encontraram antes dos corpos. O plástico encervejado dele tocou o plástico gintonicado dela. Os pés, nessa altura, já alvoroçados, dançavam um em direção ao outro. Pedintes. Correntes. A cabeça dela pendia para os lados e para baixo, em leves e corados movimentos. Os olhos dele fixavam nela. Como se nunca tivessem encontrado alguém tão simples. Tão simplesmente ela. A largura dos dois era uma só. O contato dos dedos, que se tocavam quase que por acaso, também. A palavra entalada era o arremesso dos lábios que serviam um ao outro. Sem que o toque escancarado fosse necessário. Sem que o desejo se confundisse com o porvir. Sem que a verdade deles fosse indelicadamente compreendida. Ficaram ali. Por algum tempo. Um tempo difícil de ser cortado. Um tempo do qual se lembrariam por muito tempo. Depois daquela noite, ela seguiu sendo ela. Com seus escritos, segredos e pesares. Ele seguiu sendo ele. Nos seus desajeitados cortejos, contentos e vazios. Nunca mais se viram. E nunca mais sentiram o gosto daquela noite.
terça-feira, 30 de março de 2010
sábado, 27 de março de 2010
Sólida Solidão
Um ponto no teu passo de pedra.
Uma pedra bem no meio da minha cara.
Um salto gelado no nada.
Pensamentos cinza.
Janela de cortes pouco profundos.
Cigarros de palha.
Medos de meia-cor.
Vaga sensação de vai-e-vem.
Danação.
Conchas sem som.
Sigo ainda.
Pego ainda.
Mais.
Mais de mim e do mundo.
Mar.
Montes de vida.
Garganta molhada.
E vazada.
Coração.
Cora a acidez do meu vão.
Cala os indesejáveis zunidos de nós.
Porão.
Ver-te onde queria estar.
Verte em solidão.
Uma pedra bem no meio da minha cara.
Um salto gelado no nada.
Pensamentos cinza.
Janela de cortes pouco profundos.
Cigarros de palha.
Medos de meia-cor.
Vaga sensação de vai-e-vem.
Danação.
Conchas sem som.
Sigo ainda.
Pego ainda.
Mais.
Mais de mim e do mundo.
Mar.
Montes de vida.
Garganta molhada.
E vazada.
Coração.
Cora a acidez do meu vão.
Cala os indesejáveis zunidos de nós.
Porão.
Ver-te onde queria estar.
Verte em solidão.
terça-feira, 23 de março de 2010
Vinte pratas
O ar da fumaça que me sobra é tudo que falta lá dentro.
Impressão de gesso mal-acabada.Oásis de cordas tremidas.
Voluntariedade.
Pressa.
Precisão.
Contas.
Prestações intermináveis.
Frenesi de luvas ensaboadas.
De calor.
De varizes.
De sacolas que fogem das mãos.
De pessoas inesperadas e exasperadas.
Insípida.
Onda ventilada por tatuíras inflamadas.
Sou térreo.
Sou vinte.
Sou prata.
quarta-feira, 17 de março de 2010
Fusão
Torcida pelo redemoinho das pernas dele, ela via o fundo. Vermelho e branco. Novo. Corrente de mares imperfeitos. Vastos corredores de lírios. Lua escondida pelas frestas do presente. Amálgama.
Tenho-te aqui. Entre minhas coxas e meu perfume. Dentro da minha pele velada. Veludo és tu. Ventila meu ouvido. Contenta minha carne. Adentra meus sentidos. Instala-te na minha vida. Como quem vem e fica. Como quem vê e fala. Como tu. Como tudo.
Tenho-te aqui. Entre minhas coxas e meu perfume. Dentro da minha pele velada. Veludo és tu. Ventila meu ouvido. Contenta minha carne. Adentra meus sentidos. Instala-te na minha vida. Como quem vem e fica. Como quem vê e fala. Como tu. Como tudo.
Amor, subjetividade e movimento
(...)Embora nas relações amorosas, assim como nas relações sociais de uma maneira geral, vejam-se refletidos os ideais de uma sociedade capitalista, consumista e globalizada, essas mesmas relações não operam a partir de ações e reações estanques, carregadas de alto teor de objetividade e clareza. Os indivíduos são seres altamente subjetivos e bastante inconstantes no que diz respeito ao uso da sua racionalidade. Da mesma forma que somos (também) racionais em terrenos altamente emocionais, como o dos relacionamentos amorosos, somos emocionais em áreas da nossa vida que nos exigem atitudes mais racionais, como no campo profissional, por exemplo. Torna-se muito difícil separar esses dois impulsos, e esse é um dos aspectos que torna a vida em sociedade tão complexa e confusa, ainda que passível de compreensão.
Ademais, os sujeitos não são apenas produtos de uma sociedade globalizada, são também produtores dela. Assim como nós reproduzimos muitos dos padrões cultuados pela cultura global, somos também responsáveis pela existência de uma lógica reprodutora. Os sujeitos têm poder de agência sobre o mundo e é nessa relação sujeito agindo sobre o mundo/sujeito sendo moldado por este mesmo mundo que se formam as identidades sociais e individuais.
Admitir o poder da subjetividade, e pensar que as pessoas agem no mundo na mesma medida em que o mundo age sobre elas, significa pensar que existe um certo equilíbrio de forças guiando a vida em sociedade. É claro que esse equilíbrio é relativo e penderá mais para um lado do que para outro, dependendo da situação em que se encontrar o sujeito.
(trecho da etnografia "Quando amar é um problema: os significados de amar demais a partir do MADA - Mulheres que Amam Demais Anônimas")
sexta-feira, 12 de março de 2010
Reflexo
ainda impregnada de sono:
O dia de dentro chegava pulsante.
Caminho de rio que se quer estar longe.
Transbordo,
Gotículas-mãos dadas com o mundo:
Enxame.
Acordes espaçados ao vento verde.
Vocábulos esvoaçados pelo tempo, sede, vós:
Reflexo.
Nós.
(À quatro mãos, e muitas almas. Divagação conjunta, Juliana Ben e Eduardo Marques)
segunda-feira, 8 de março de 2010
Para Caio
(seria quase um plágio se não fosse uma homenagem)
Disponível. Palavra bonita. Peguei emprestada do melhor poeta pra te dizer que tudo que eu vou dizer agora é mais importante do que tudo que eu já disse um dia. Olha. Sente. Pega a minha mão. Percebe? O receio e o encantamento se misturam, assim como o marrom e o rosa da tua boca. E o áspero e o velho do teu casaco. E o falso sentido do teu perdão. E o meu falso pedido de perdão. E tudo aquilo que não foi visto. E que podia ser feito. Talvez não pudesse. Talvez não quisesse. É provável que não fosse, não vinha, não tinha.
Secreto. Como tudo que sai de ti. Como tudo que me comove. Abstrato. Teu desejo. Teu medo. Teu porvir. Borrado. Nós dois. Passado. Presente que se quer pesado. Pesado que não se quer nunca. Gosto de pedra quente em assoalho roxo. Vertigem de todas as coisas. Remédio para a pisada funda. Cor de sem. Projeto incansável. Amarelo que dói nos olhos. Um caule fincado em mim.
Secreto. Como tudo que sai de ti. Como tudo que me comove. Abstrato. Teu desejo. Teu medo. Teu porvir. Borrado. Nós dois. Passado. Presente que se quer pesado. Pesado que não se quer nunca. Gosto de pedra quente em assoalho roxo. Vertigem de todas as coisas. Remédio para a pisada funda. Cor de sem. Projeto incansável. Amarelo que dói nos olhos. Um caule fincado em mim.
terça-feira, 2 de março de 2010
Cor-de-liz
O soco na pele lembra o invisível da alma. Leve e corante. O pensar e o torcer seguem caminhos distintos. O abismo que avisto é ilusório. Penugem. Corpo escasso. Peste que gruda.
A vida é engraçada, mas ainda assim machuca. Perda por todos os lados. Achados em todos os sentidos. Contentamento e displicência. Vazio e perturbação. Abandono.
O que salva nesse mar de lembranças cortadas é o profundo sentido da vida. Correto, ainda que distante. Pesado, ainda que corrente. Lesado, ainda que latente. Compacto.
Desejo estar em mim em todos os momentos, assim como protejo os favos de covardia que ainda restam . Quero-me inteira. Quero-me acesa. Quero-me cor-de-liz.
A vida é engraçada, mas ainda assim machuca. Perda por todos os lados. Achados em todos os sentidos. Contentamento e displicência. Vazio e perturbação. Abandono.
O que salva nesse mar de lembranças cortadas é o profundo sentido da vida. Correto, ainda que distante. Pesado, ainda que corrente. Lesado, ainda que latente. Compacto.
Desejo estar em mim em todos os momentos, assim como protejo os favos de covardia que ainda restam . Quero-me inteira. Quero-me acesa. Quero-me cor-de-liz.
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