terça-feira, 23 de setembro de 2008

7 meses

O braço dele foi a primeira coisa que eu vi. Suas mãos tentavam amaciar o preto, mas este, como de costume, estava indomável. Depois eu vi a cor. O vermelho do peito dele chamava o petit-poà do meu vestido, também vermelho. O sorriso direto foi a terceira surpresa da noite, e o tocar de mãos conduziu ao inevitável encontro dos corpos, nessa altura, já ofegantes, soltando pequenas faíscas no ar. Nesta ocasião-casual-comum surgiu um inesperado sentimento profundo, algo entre o desejo intenso do querer físico e o desejo duradouro do querer-sempre-estar. Nada mais precisava ser dito. O amor estava ali.

Um comentário:

Douglas Dickel disse...

Five months ago... "Vinte e três e sessenta. No dia vinte e três de fevereiro, sessenta minutos antes de eu te conhecer, eu estava na mecânica do Crânio, para ele fazer com que a embreagem do carro continuasse funcionando e eu pudesse ir à tua casa, ainda sem saber quem tu era/seria/é/será. Do lado do Crânio, é a pizzaria onde, talvez uns vinte e três minutos depois, eu comi um rodízio em menos de outros vinte e três minutos, para que eu pudesse chegar à tua casa na hora combinada (combinada não por mim e por ti, ainda). Sessenta segundos antes de eu te ver pela primeira vez, eu subia as escadas do teu prédio junto com o Muriel. Quando meus olhos te viram pelo primeiro micro-instante, eu falei justamente desses sessenta segundos anteriores ao momento-zero, tu abrindo a porta com tuas roupas vermelhas e pretas e todo o resto que te compõe seja com que roupa tu estiver. O que aconteceu nos sessenta segundos que se seguiram a esse momento? Acho que eu sentei na mesa onde em menos de vinte e três horas depois eu estaria sentado de novo. Foram sessenta segundos muito duradouros aqueles antes de as nossas mãos se engancharem - eu de olho fechado - e puxarem nossos corpos de modo que eles e nossas bocas libertassem de vez as faíscas de energia que se acumulavam e faziam os nossos olhares brilharem. Dia vinte e três de fevereiro é o Dia Internacional da Sedução. Sério. Muito apropriado - o dia para o acontecimento e o acontecimento para o dia. O Acaso, a Sorte. Aquele dia também é o Dia da Paz e da Compreensão Mundial. Igualmente muito apropriado, se tomarmos como pontos de partida os nossos mundos individuais, que, desde então, estão em processo bonito de consolidação de paz interna e de compreensão mútua. Vinte e três dias depois dos nossos primeiros sessenta minutos, eu estava te buscando no aeroporto, revendo-te cheio de saudade e com cada vez mais confirmações do meu apaixonamento por ti, do meu crescente amor - do nosso. Hoje é vinte e três de abril, e nossos primeiros sessenta segundos fazem aniversário de sessenta dias. Quando eu te encontrar, à noite, meus primeiros sessenta segundos serão semelhantes aos de todos os nossos encontros nesses sessenta dias: serão segundos de felicidade por estar mais uma vez na presença de alguém tão assim."