O braço dele foi a primeira coisa que eu vi. Suas mãos tentavam amaciar o preto, mas este, como de costume, estava indomável. Depois eu vi a cor. O vermelho do peito dele chamava o petit-poà do meu vestido, também vermelho. O sorriso direto foi a terceira surpresa da noite, e o tocar de mãos conduziu ao inevitável encontro dos corpos, nessa altura, já ofegantes, soltando pequenas faíscas no ar. Nesta ocasião-casual-comum surgiu um inesperado sentimento profundo, algo entre o desejo intenso do querer físico e o desejo duradouro do querer-sempre-estar. Nada mais precisava ser dito. O amor estava ali.
terça-feira, 23 de setembro de 2008
segunda-feira, 15 de setembro de 2008
Meia-cor
Uma violeta brotou no telhado do meu edifício
O abismo lancinante, que já esperava o ocorrido, engoliu o edifício
Os carros vermelhos buzinaram durante dez horas
E as fendas invisíveis dançaram no meu quadril
Nessa hora, o compasso do meu corpo pediu pra ficar
Mas o espaço negro do meu rabo-de-cavalo não deixou.
O abismo lancinante, que já esperava o ocorrido, engoliu o edifício
Os carros vermelhos buzinaram durante dez horas
E as fendas invisíveis dançaram no meu quadril
Nessa hora, o compasso do meu corpo pediu pra ficar
Mas o espaço negro do meu rabo-de-cavalo não deixou.
quinta-feira, 11 de setembro de 2008
As cores do fim
Um peito moído. Um peito moído de carne e sangue. Um peito tomado pelo aperto profundo. Uma dor pulsante em forma de cone. Um olhar perdido de fundo de poço.
O tênis roxo, ao pé da cama, traz o pé que faltava pra pular da cama e sair do quarto. A pasta de dente ameniza o gosto das secreções da noite. O pó compacto uniformiza a pele e deforma a cor.
Um telefonema interrompe o café da manhã e desculpa a alma. O desejo de abrir a janela e ser engolida pelo mundo torna-se latente e, então, ela se joga pra ele, quase feliz, aliviada. O barulho do corpo moído, no choque com o chão, lembra o som de um abacate gigante caindo de maduro. O sangue, antes aprisionado no peito, é liberado pela cabeça e vai ganhando uma coloração rosada ao se misturar com a chuva. O líquido rosa vai tomando a calçada até se perder em algum bueiro dessa cidade cinza.
O tênis roxo, ao pé da cama, traz o pé que faltava pra pular da cama e sair do quarto. A pasta de dente ameniza o gosto das secreções da noite. O pó compacto uniformiza a pele e deforma a cor.
Um telefonema interrompe o café da manhã e desculpa a alma. O desejo de abrir a janela e ser engolida pelo mundo torna-se latente e, então, ela se joga pra ele, quase feliz, aliviada. O barulho do corpo moído, no choque com o chão, lembra o som de um abacate gigante caindo de maduro. O sangue, antes aprisionado no peito, é liberado pela cabeça e vai ganhando uma coloração rosada ao se misturar com a chuva. O líquido rosa vai tomando a calçada até se perder em algum bueiro dessa cidade cinza.
terça-feira, 2 de setembro de 2008
Romance reproduzível
Eu odeio como, hoje em dia, dá pra levar qualquer coisa com você, como se diz em inglês – take away. Benjamin errou. Não é a reprodução, é a portabilidade que mata – tudo é fácil demais.
Texto de Daniel Horch e RaquelGarbelotti, extraído do livro-exposição-portátil Amor love.
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