terça-feira, 12 de fevereiro de 2013

A cidade


A cidade choca
Da janela do avião que parte
E me parte em dois

A cidade chora
Em gotas de chumbo
Num desavisar contínuo
Por vezes mecânico e azul

A cidade ponta
E parte em vão

A cidade lança
Olhares, flechas e prumos

A cidade avança
Pensando novos rumos pra mim e pra ti

A cidade avisa
Que o fácil pesa no lombo de quem fica

A cidade chama
Enxames
De gente e de lama

A cidade em chamas
Violeta
De dores ainda pouco conhecidas

A cidade abana
Havana
Cali
Pequim

A cidade abusa
E encontra um som por onde entra

A cidade lisa
Sem qualquer pedregulho ou cacho sem fim

A cidade pisa
E dói em quem chega de mais uma viagem definitiva

A cidade lusa
Ainda que Oliveiras falhem e Gomes percam toda sua fortuna

A cidade vaza
Por poros e valas afins

A cidade prisma
E prima por ti

A cidade curva
Te leva presentes
E todos os teus parentes

A cidade vinga
Antigos e novos moradores
Amargados pela saída
Ou pela chegada

A cidade nota
Que ricos e pobres
Dividem o mesmo desprezo pelos seus

A cidade acusa
A cidade cara

A cidade assusta
E cai sobre aqueles que teimam em entrar pela porta da frente

A cidade mora
E é mor em tudo que vê
E fala porque sabe

A cidade nua
A cidade nunca
Sai de mim

Um comentário:

Anônimo disse...

Massa, Ju.
Aí vai outro, primo desse teu, modestamente digo eu:
https://zonzalma.wordpress.com/2013/11/18/costa-cidade/