segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

Hoje

Hoje eu quero falar de ti.
Cansei de falar de mim e da gente.
Cansei de colchas de retalho corrosivas.
Do meu leve permanente.

Hoje eu quero buzinas flamejantes.
Cortados anúncios de bolhas-casa.
Destroçadas ideias esvoaçantes.
Pousadas e rasantes no muro.

Hoje eu quero o grito das gaivotas.
A sombra do que eu não vejo.
O frango do prato ao lado.
As cores da tua pisada funda.

Hoje eu quero o não-dito
O abismado
O passado impefeito
A torre esquecida
A valsa podada
O peso que evitas.

Hoje eu quero a saída
Dividida em muitas janelas
Em pontes que nunca ando
Em pedras que nunca pego.

Hoje eu quero a tua mão vazia
O teu pensar invertido
Tuas tensões invadidas
Pinceladas em tecido.

Hoje eu quero o latente
O caminho que não foi traçado
O troço destroçado
Os moços da esquadra leste.

Hoje eu quero falar de ti.