sexta-feira, 17 de junho de 2011
domingo, 12 de junho de 2011
Um velho ar que se faz novo
Voltei. Ainda não sei exatamente o que isso significa. Ainda não sei exatamente o quanto isso me modifica. Eu ainda não sei o peso e o prazer de tudo isso.
A compreensão de um retorno pode acontecer de muitas formas. Elas podem ser contraditórias e confluentes ao mesmo tempo e isso não quer dizer mais ou menos desejo de voltar. Elas podem vir de fora pra dentro. Elas podem não querer sair de dentro. Elas podem não ser também.
Faz pouco tempo descobri que eu não sei fugir. Não sei fugir das minhas próprias escolhas e das escolhas alheias nas quais estou implicada. Nunca aceitei tanto o meu presente como agora. E uma nova concepção do agora surge em mim também. Eu tinha uma estranha fixação por um agora unicamente feito de presente. Feito de corrente de mão única. De êxtase obrigatório. De felicidade inventada e não reinventada.
Mas um presente também pode acontecer de muitas formas. Pode correr de muitas frestas. De muitas voltas. De muita espera pouco-profícua. E a minha forma de acontecer presente é perceber passado-nuvem-quente. É compreender passado-pedra-musgo-que-escorrega. É viver um dia que só é dia porcausa das noites e das tardes. Eu adoro as tardes. As minhas melhores lembranças foram tecidas em tardes e às vezes era muito tarde para tecer uma nova tarde, mas eu não estava satisfeita e seguia querendo tardes que nunca chegariam e nunca chegarão, porque com uma certa frequencia a realidade é bastante diferente da imaginação, da idealização. Eu sei que é senso-comum dizer – e ainda mais escrever! – que realidade e idealização não coincidem, mas como ocultar esse cliché tão fundamental? Como sublimar o óbvio? O escancarado desejo de um prazer comum.
Eu perdi o que eu estava escrevendo, e isso fez com que eu me perdesse de mim mesma por alguns minutos, mas daí eu pensei: eu sou realidade reinventada! Reinventada da minha própria matéria e de tudo mais que eu tomo pra mim. Eu não tenho medo de repetir palavras. De desejar o óbvio. De deixar que as coisas aconteçam em mim.
Eu voltei e não me revoltei, ainda que eu tivesse muito medo disso. Um medo de presente requentado. De comida que perde o sabor porque mofa na geladeira. Não. A comida não perde o sabor. Ela se transforma, como quase tudo que eu conheço. A gente nunca repete as experiências. Elas nunca tem e nunca terão o mesmo gosto. Os textos nunca tem os mesmos erros. A língua muda. A dor muda. E até o amor muda.
Voltar para casa é quase sempre viver um paradoxo, mas como diria Maria Zambrano: Yo creo más en las paradojas de la vida que en las antinomias del pensamiento.