quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

Parte III

Tempo de estar

Estar. Corada maneira de estar só. Pousada rasante do ser-no-mundo. Emoção enclausurada de formas distintas. Mania. Espera fatigante. Costas veladas.
Teu começo é o meu meio. Tua comida é o que me falta. Teu tecido me desce. Somos cascos de um jardim vazio. Temos verde. Vemos cura.
O gosto da testa arde no meu pé. O peso da carne convida e aquece. Passo. Apresso. Pego. Contesto. E o resto é tudo o que vem e não fica.

Parte II

Tempo de não-estar

O que sai de mim é o acúmulo incansável. Pudento e fétido. Vil e úmido. Disforme. O ímpeto de compactar o sentimento e ir além, cresce vertiginosamente. O medo de conseguir o que se quer pela cabeça, mas não se quer pelo coração, corrói.
Contatos abertos trazem o desgosto. Feridas guardadas competem com zelo. Veneno na cara. Couraça de prata. Azul de dentro.
Vejo que te quero por cento. Marco meu nome em tua casa. Peço o teu tempo. Perco o meu tempo. Tempero o nosso segredo.

Trilogia do Tempo - Parte I

Tempo de estar só

A verdade descia como um rio. Larga e galopante. O corpo estirado apresentava sinais de indiferença. O assoalho vermelho não mais conduzia. Pernas e braços compassavam vazios, enquanto o denso olhar dele vertia para ela. Vertia em suor. Em poder.
Artigos cotidianos, ele trazia. Respostas suaves, ela continha. Coragem na porta. Medo na esquina. Planos no fundo. O descontentamento deles era um só. O oco do peito, também. O sentido do que não há mais sentido era visceralmente sentido, e tudo que ali não estava, em algum outro lugar havia.
A mais tácita das perguntas tornava-se invasiva, criando um desconforto entre a bílis e a laringe. Ela queria pedir a ele para não pedir. Ele queria pedir a ela que pedisse. Um queria pedir ao outro o que não poderia dar a si mesmo, e os pedidos que coexistiam naquela sala borrada, permaneceriam ali, como o tempo queria.